ALQUIMIA
(Ferreira
Filho)
Poeta é alquimista.
É aquele que transforma a matéria
noutra matéria.
Matéria esculpida nas sensações,
Transformada em signos.
Poema é escultura de signos
esculpidos sensualmente.
Poesia é coisa,
Mas uma coisa não como as outras
coisas,
Embora as outras coisas sejam sua
coisidade.
Poesia é feita de coisas que não
conseguimos dizer
Porque o dizer é a morte da coisa.
Poesia é dia na noite.
Mas o dia tem muitos dias – como
Gullar ensinou.
A noite tem muitas noites e à noite
uma vida cheia de dias para rememorar.
Na pequena partícula do tempo o meu
corpo feito poesia se desdobra na irrepetibilidade do instante.
A sobra, a dobra, a penumbra, a
incompreensão de mim mesmo numa espécie de amostra.
O original? Que original?
Que origem?
Origem?
Quê?
Só resta resto e nisto ainda tudo!
Tudo o que me resta é meu corpo
preso nessa braguilha entreaberta esperando a multiplicação.
Perdido meu futuro se desfaz na
precoce ejaculação de palavras que se contradizem.
Corpo de palavras que querem fecundar
quase a força (por isso se estuda retórica); inutilidade, precariedade de uma
ponte que liga os humanos.
Ainda assim digo.
Digo e existo ou me condeno ao
silêncio, à estupidez, à morte.
Seria melhor se pudesse cantar ou
dançar o que tento dizer.
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